quarta-feira, outubro 21, 2009

De ira



A ira.
Emoções ao rubro!
Não é raiva. Nem ódio. Nem rancor. Nem cólera.
A raiva é canina. Ladra e finca os dentes. Nas canelas.
E o ódio e o rancor e a cólera são sinónimos. Para palavras cruzadas.

A ira
afia as unhas
rasga as vestes
avermelha a face
ensanguenta o olhar
faz dos olhos bugalhos
arqueia os dedos e os braços
transfigura-me num belzebu.
Um pecado capital!
Arre!

A vingança
aspira. À serenidade. E à paz.
joga tudo o que se tem. À mão.
atira. Tiros. Baleia à machadada.
mata. O outro. Com vidro moído.
é morfina. Para todas as Dolores.
é adrenalina. Num salto e_mortal.
serve-se na grelha sobre brasas.
não se serve fria. Só constipa.
Vingança! Ou suicídio!
Assim se sacia a ira.
Um pecado!
Irra!

A ira urra.
A vingança cura.
Contra o pecado outro pecado.
Ou contra o pecado uma virtude.
Ao capital oponha-se uma cardinal.
À ira a paciência. A mansidão.

Falemos, então, de touros. Ou de vacas.
Bravos e mansos.


Daniel Sant’Iago


(No caso da ira, a virtude cardinal é a paciência, que significa serenidade, paz.
'A ira foi dada aos seres dotados de vida animal para que removam os obstáculos que inibem o apetite concupiscível de tender aos seus objectivos, seja por causa da dificuldade de alcançar um bem, seja pela dificuldade de superar um mal' (I-II, 23, 1 ad 1). A ira é a força que permite atacar um mal adverso (I-II, 23, 3); a força da ira é a autêntica força de defesa e de resistência da alma (I, 81, 2).)


Obrigada, Daniel, pelo poema que, a meu pedido, escreveste para a foto do Mim! :)